Debaixo de onde altos ramos
Fazem grande o arvoredo
Solitariamente vamos
Num colóquio que calamos,
Cada um com seu segredo.
Falam por nós, que, calados,
Seguimos mútuos e lentos,
Os altos ramos falados
Por ventos desencontrados
Com os nossos pensamentos.
Vamos e achamos que é uma
A dupla emoção que temos.
Os ramos têm som de espuma.
O som tem ondas de bruma.
A emoção? Já a esquecemos…
25 – 8 – 1934
Fernando Pessoa In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006